Acho que a confusão econômica já está instalada: um governo pretendidamente de esquerda que aplica uma política econômica alegadamente neoliberal (pelo menos é disso que o acusam seus opositores de "esquerda) e uma tropa de social-democratas que conceberam essa política "neoliberal" (e que, obviamente, não o é), mas que agora se pretende "desenvolvimentista"...
A longa matéria abaixo, do jornal Valor Econômico (24.03.06, caderno de Fim de Semana), lista uma série de livros que os candidatos deveriam ler, segundo alguns gurus econômicos (com exceção de um, que recomenda não ler nada e seguir o instinto).
Não há "Bíblia econômica", mas uma série de evangelhos, provavelmente com "soluções" parciais e limitadas para o nosso caso, um caso série de baixo crescimento, estrangulamentos estruturais e "mismanegement" administrativo.
Acho que os candidatos não vão ler nenhum deles, mas vão provavelmente ter assessores que leram vários, e virão com idéias criativas em torno de algumas inovações econômicas.
Se da discussão nasce a luz, a tentativa de aplicar todas essas idéias ao mesmo tempo pode resultar em tremenda confusão.
Não custa nada, em todo caso, repassar a lista dos títulos, como transcritos abaixo.
Reportagem de Capa
Trinta e dois livros - ou mais de 10 mil páginas - são as sugestões de leitura de 16 economistas feitas a candidatos à PresidênciaTítulos de longo prazo
Por Robinson Borges e Carolina Juliano De São Paulo |
Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Os candidatos à Presidência têm, agora, uma biblioteca básica para elaborar seus programas de governo. São indicações de leitura feitas, a pedido do Valor, por 16 economistas de variadas escolas de pensamento e identidades partidárias. São 32 obras, que totalizam mais de 10 mil páginas (equivalentes a umas oito "Bíblias do Executivo", edição das Escrituras para dirigentes empresariais, da Editora Vida) e um investimento de menos de R$ 2.000. A bibliografia tem como foco principal o crescimento econômico, mas há uma tendência para livros que abordem as instituições e aspectos microeconômicos. A grande variável é qual paradigma a seguir.
Francisco de Oliveira, professor da USP e ex-membro do PT, critica o "vazio" que impera na discussão econômica dos dois partidos com mais músculos para enfrentar a disputa das eleições neste ano. Portanto, declara que é preciso voltar aos clássicos: "Essa gente precisa ler, ou reler, quase tudo. Tanto o PT como o PSDB deveriam ler uma biblioteca inteira antes de pensar em elaborar qualquer coisa."
Oliveira sugere duas obras: "Formação Econômica do Brasil", de Celso Furtado (1920-2004), e "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", de John Maynard Keynes (1883-1946). Os dois livros estão alinhados ao pensamento desenvolvimentista. Furtado, o maior nome da escola no Brasil, é também o mais lembrado, com cinco obras na lista do Valor. Não deixa de ser curioso, pois ele era um crítico da profissão: "Os problemas econômicos são problemas que os economistas sabem formular mais ou menos, não é? Se bem que tropecem com essa idéia de que os problemas econômicos são macro ou micro, e raciocinam em termos de micro e aplicam em termos de macro, o que faz com que seja tão difícil depois sair das enrascadas em que nos metemos", disse à revista "Caros Amigos".
No outro extremo está Gustavo Franco, um tucano ortodoxo, que recomenda aos economistas do PT que não leiam e sigam a intuição, pois "o que deu certo para eles foi fazer diferente do que leram". Ora, "se a esta altura do campeonato forem ler alguma coisa diferente, o efeito pode ser o contrário". Então, é "melhor deixar como está".
A lista tem ainda três Prêmios Nobel de Economia: Joseph E. Stiglitz, Amartya Sen e Douglass C. North.
As reformas e seus inimigosClaudio Haddad, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
"Salvando o Capitalismo dos Capitalistas", de Raghuram Rajam, economista-chefe do FMI, e Luigi Zingales, professor da Universidade de Chicago (Campus), é um livro que, além de excelente resumo histórico da evolução dos mercados financeiros e de capitais, traz ótima análise dos movimentos e tendências recentes, à luz dos benefícios e da oposição dos grupos de interesse à modernização e a reformas. Os autores fazem análise técnica e factual, acrescida de elementos comportamentais, que torna esta obra de economia política essencial à elaboração de projetos e planos econômicos.
Claudio Haddad, ex-diretor do Banco Central, é diretor-presidente do Ibmec São Paulo.
Respeitar direitos e honrar contratosClaudio Considera, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
"Direito, Economia e Mercados", escrito a quatro mãos por Armando Castelar Pinheiro e Jairo Saddi (Campus), é uma boa leitura para os formuladores de programas de governo. Os autores, com base nos fundamentos teóricos do movimento "direito e economia" desenvolvem um amplo estudo sobre regulação e concorrência no Brasil. Além da parte aplicada, os capítulos teóricos auxiliariam bastante os assessores de candidatos à Presidência a entender o papel que o direito da propriedade e os contratos jogam para o bom funcionamento do mercado e, portanto, para o crescimento econômico.
Embora o livro se destine a uma análise microeconômica, fica evidente como tais conceitos, associados ao conceito de governança, que trata da segurança institucional, explicam em grande parte por que o Brasil cresce pouco. Sem dúvida, os anos de molecagem institucional e de desrespeito a contratos e direitos de propriedade, pré-Plano Real, explicam o desastre da década de 1980. As crises mundiais e as reformas não realizadas por causa da obstrução do PT explicam o insucesso do crescimento em alguns dos anos do período FHC. Finalmente, a bagunça institucional, o solapamento das instituições, o desrespeito aos direitos de propriedade e as ameaças aos contratos explicam a espetacular mediocridade que têm sido as taxas de crescimento do governo Lula.
Outra sugestão é "Macroeconomia: Teoria e Política Econômica", de Olivier Blanchard (Campus), que contém excelente e abrangente explanação da teoria macroeconômica no seu mais recente desenvolvimento. Com ele, é possível entender como funciona o processo macroeconômico: o que determina o produto e a renda, as relações com a economia mundial, como funciona a política monetária (taxa de juros), como funciona a política fiscal (déficits e dívidas do governo); a relação salário-preços, os problemas advindos das incertezas e os determinantes do crescimento econômico. Sua leitura, principalmente pela assessoria do presidente Lula e vários de seus ministros, evitaria uma grande quantidade das besteiras que dizem.
Claudio Considera, ex-secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, é professor do Ibmec.
Para compreender e fazer democraciaEliana Cardoso, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Minha primeira sugestão é "On Democracy", de Robert Alan Dahl (Yale). A democracia é o ingrediente número um da vida em sociedade. O autor explica o que ela é, por que é importante, como funciona e quais seus desafios. Também recomendo:
"Why I Am not a Christian", discurso de Bertrand Russell (disponível em www.positiveatheism.org/hist/russell0.htm). Um presidente não pode misturar religião com política, como faz George W. Bush. Russell, campeão da liberdade de expressão e hostil ao dogma, defende a lógica e a evidência na sustentação de um argumento.
"Development as Freedom", de Amartya Sen (Random House, publicado no Brasil pela Companhia das Letras). Com exemplos históricos e evidência empírica, o prêmio Nobel de Economia despreza o debate estéril a favor ou contra o mercado e examina questões que interessam a todos, em especial a quem faz política econômica.
"The Mystery of Economic Growth", de Elhanan Helpman (Balknap, Harvard). É a mais abrangente e clara análise da teoria do crescimento, escrita com enorme sabedoria pelo maior especialista na área.
Por último, um livro que traz introdução aos temas do crescimento, inflação, políticas fiscal, comercial e social e que estabelece relação entre cada um deles e o desenvolvimento recente da economia brasileira. Tenho a ousadia de recomendar o meu "Fábulas Econômicas" (Pearson).
Eliana Cardoso, economista, é colunista do "Valor.
O desafio é dizer como se fazArmando Castelar Pinheiro, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O Brasil avançou muito desde o início dos anos 1990, com as reformas, o Plano Real e, mais recentemente, uma política macroeconômica calcada em estabilização da razão dívida pública/PIB, câmbio flutuante e metas de inflação. Mas isso foi insuficiente, como fica claro nas baixas taxas de crescimento do PIB - em qualquer período de dez anos consecutivos, no último quarto de século, em nenhum caso a expansão média da economia atingiu 3% ao ano.
O grande desafio do próximo governo será elevar o teto de crescimento sustentado da economia. O que se espera dos candidatos é que apresentem programas em que expliquem como pretendem fazer isso. Nesse processo, será recomendável a leitura dos trabalhos de Douglass C. North - Prêmio Nobel de Economia - sobre o papel das instituições no processo de desenvolvimento econômico. O livro "Institutions, Institutional Change and Economic Performance - Political Economy of Institutions and Decisions" (Cambridge University Press), me parece especialmente interessante. Nele, North mostra como as instituições operam para reduzir custos de transação, elevar a eficiência da economia e mitigar o risco de quem investe e produz.
Apesar dos avanços dos últimos anos, o Brasil permanece com instituições econômicas frágeis e pouco eficientes. De fato, como mostram os casos de expropriação de direitos de propriedade por agentes públicos e privados em anos recentes - vejam-se, por exemplo, a invasão e a destruição do laboratório da Aracruz pelo MST -, o Brasil sofre de um déficit crescente de segurança jurídica, que tem sido uma das principais barreiras ao investimento no país. E sem uma taxa mais elevada de investimento é difícil imaginar que se possa recolocar o Brasil em uma trajetória de crescimento rápido e sustentado.
Armando Castelar Pinheiro é professor do Instituto de Economia da UFRJ.
Pode-se fazer outra históriaJosé Marcio Rego, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Os formuladores de política do próximo governo devem ler dois livros que - não por acaso - possuem as palavras "desenvolvimento" e "crise" em seus títulos e são excelentes para o entendimento da economia brasileira nos últimos 75 anos: "Desenvolvimento em Crise - A Economia Brasileira no Último Quarto do Século XX", de Ricardo Carneiro (Unesp/Unicamp), e "Desenvolvimento e Crise no Brasil - História, Economia e Política, de Getúlio Vargas a Lula", de Luiz Carlos Bresser-Pereira (Editora 34).
No prefácio do primeiro livro, escreveu Luiz Gonzaga Belluzzo: "A rejeição ao nacional entre as elites cosmopolitas é a mais profunda desde o início do processo de industrialização. Atingiu, de forma devastadora, os sentimentos de pertinência à mesma comunidade de destino, suscitando processos subjetivos de diferenciação e desidentificação em relação aos 'outros', ou seja, à massa de pobres e miseráveis que 'infesta' o país. E essa desidentificação vem assumindo cada vez mais as feições de um individualismo agressivo e anti-republicano".
Para Celso Furtado, Bresser-Pereira "abriu novas pistas no estudo da realidade nacional" e "articulou o enfoque historicista com a análise econômica, assinalando a incapacidade de nosso povo para se defender contra as elites". E diz Bresser: "Nossa história nacional não tem sido (...) de defesa consistente do interesse nacional (...) O complexo de inferioridade colonial pesa sobre nossas elites e as leva ou a um globalismo alienado, ou a um nacionalismo retrógrado".
Na perspectiva dos dois autores, há espaço para que se formule uma política econômica novo-desenvolvimentista e profícua. É preciso que um novo presidente trave contato com essa literatura, ou a releia, na hipótese de um processo de remissão.
José Marcio Rego é professor da FGV-SP e da PUC-SP
Ainda vale ouvir José BonifácioMarcio Pochmann, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
"Projetos para o Brasil", de José Bonifácio de Andrada e Silva (Cia. das Letras; organização de Miriam Dolhnikoff) rememora uma proposta civilizadora, que tinha por objetivo viabilizar a nação brasileira a partir de sua independência nacional. Em "A Construção Interrompida" (Paz e Terra), Celso Furtado desenvolve uma visão crítica a respeito das dificuldades que precisariam ser vencidas para se viabilizar no Brasil um projeto civilizador.
Marcio Pochmann, ex-secretário da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo (gestão de Marta Suplicy), é professor e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp.
Voltar à crítica, para mudarPlínio de Arruda Sampaio Junior, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Em primeiro lugar, os partidos políticos devem relembrar os efeitos da globalização dos negócios sobre o Brasil com a leitura de "Brasil: A Construção Interrompida", de Celso Furtado (Paz e Terra).
É fundamental essa volta ao melhor da tradição crítica do pensamento brasileiro para compreender quais são os problemas do Brasil. Este livro é definitivo para mostrar os efeitos perversos do processo de globalização dos negócios sobre o Brasil. Como não resolvemos nossos problemas históricos, eles persistiram, se agravaram e ganharam novas dimensões. Por isso, não seria nada mal começar o programa pela reflexão, abortada pela ditadura militar, que até hoje permanece na penumbra.
Depois dessa reflexão, sugiro que o programa de governo aponte novos horizontes para o Brasil e as leituras recomendadas para isso são "A Revolução Brasileira", de Caio Prado Junior (Brasiliense), e "Em Busca de Novo Modelo", também de Celso Furtado (Paz e Terra).
A agenda do programa pode inspirar-se em "Um Projeto para o Brasil" (Paz e Terra), outra obra de Furtado, que define uma agenda de reformas ainda atual.
Por fim, indico dois livros do sociólogo Florestan Fernandes: "Revolução Burguesa no Brasil" (Globo) e "O Que é Revolução" (Brasiliense). Com todas essas leituras, poderão ter mais consciência dos problemas políticos que devem ser enfrentados para realizar as transformações que o Brasil precisa.
Plínio de Arruda Sampaio Junior, professor de economia da Unicamp, é ex-membro do PT.
É preciso seguir caminho próprioJoão Sicsú, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Três livros devem ser lidos por integrantes do PSDB, PT, P-SOL e também PMDB. O primeiro deles é de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia: "A Globalização e seus Malefícios: A Promessa não Cumprida de Benefícios Globais"(Futura), um diagnóstico de como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Tesouro americano sugerem que os países não-desenvolvidos se insiram na globalização financeira.
A principal mensagem do livro é que as promessas de conquista da prosperidade feitas por esses organismos aos países não-desenvolvidos não foram cumpridas. O resultado, muito ao contrário, tem sido a estagnação econômica e crises financeiras.
O Brasil é um exemplo de país que aderiu ao receituário do Fundo e, em conseqüência, enfrenta crises financeiras e possui uma taxa medíocre de crescimento. Índia e China são países que seguiram caminhos próprios e crescem a taxas elevadas - e não tiveram que enfrentar crises financeiras.
Outros dois livros que sugiro são coletâneas de artigos organizadas por João Antonio de Paula. "A Economia Política da Mudança: os Desafios e os Equívocos do Início do Governo Lula" (Autêntica) reúne visões marxistas, keynesianas e evolucionistas com dois objetivos: mostrar que o modelo econômico adotado pelo governo Lula é uma cópia do modelo implementado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e que era possível adotar um modelo econômico desenvolvimentista sem que isso tivesse causado, na época, grandes turbulências políticas e sociais.
A mensagem central do livro é que a adoção de tal modelo está baseada na crença de que sacrifícios no curto prazo são necessários para que se chegue ao "paraíso" no longo prazo.
"Adeus ao Desenvolvimento: A Opção do Governo Lula" (Autêntica) é uma coletânea em que se faz um balanço do desempenho econômico recente do país. As conclusões unânimes são de que o modelo adotado foca apenas o controle da inflação e não prioriza a geração de empregos, o crescimento e a redução das desigualdades sociais. O livro, além de fazer um diagnóstico bastante detalhado da economia e da sociedade brasileiras, sugere um conjunto de mudanças que poderiam ser adotadas para se dar outro rumo ao país. Entre elas, programas sociais, políticas industriais, políticas de ciência e tecnologia e políticas macroeconômicas voltadas para o controle da inflação e para a geração de milhões de empregos. Praticamente, uma cartilha já pronta, que os candidatos deveriam consultar antes de decidir sobre programas de governo.
João Sicsú é professor do departamento de economia da UFRJ.
Um olho no futuro, outro na conjunturaIlan Goldfajn, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O tema da campanha deste ano será o crescimento econômico, e o livro para os formuladores dos programas de governo lerem pode ser "The Ellusive Quest for Growth", escrito por William Easterly (MIT Press), que detalha a experiência prática e o consenso acadêmico sobre os fatores que contribuem e não contribuem para o crescimento sustentado. Além disso, recomendo a coletânea que editei,"Inflation Targeting and Debt: The Case of Brazil", também publicado pela MIT Press, com artigos de renomados economistas brasileiros e estrangeiros debatendo temas como metas de inflação, dívida fiscal e os juros altos.
llan Goldfajn é ex-diretor de política econômica do Banco Central, tendo também já trabalhado no Fundo Monetário Internacional. Atualmente, é professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e sócio da Gávea Investimentos.
Como se manter bem longe do FMIAndré Franco Montoro Filho, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O governo do PT não acertou quando tratou muito bem o Fundo Monetário Internacional. Antes de elaborar um novo programa de governo, os analistas do Partido dos Trabalhadores deveriam ler "A Globalização e seus Malefícios: A Promessa não Cumprida de Benefícios Globais", de Joseph Stiglitz (Futura), para aprender um pouco mais sobre lidar com o Fundo. O autor avalia o crescimento econômico dos países da América Latina que receberam auxílio do FMI. Comparando as taxas de crescimento no período de 1982-1992 com as registradas nas décadas de 1950, 60 e 70, Stiglitz constata que o crescimento médio da América Latina na década mais recente foi a metade das anteriores. E conclui que o caminho para o crescimento da região tem que ser encontrado à margem do Fundo.
André Franco Montoro Filho é professor da USP e colaborador do PSDB.
É melhor não ler nadaGustavo Franco, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O PT está acertando a mão e isso se deve ao fato de o partido ter decidido seguir a "intuição". Não recomendo leitura nenhuma para a elaboração de um novo programa de governo. Acho que os economistas do Partido dos Trabalhadores já leram bastante, e o que deu certo para eles foi fazer diferente do que leram e obedecer ao sentido do momento. Se a esta altura do campeonato forem ler alguma coisa diferente, o efeito pode ser o contrário. Melhor deixar como está.
Gustavo Franco, professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, foi presidente do Banco Central do Brasil durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (agosto de 1997 a janeiro de 1999).
A microeconomia maltratadaSérgio Werlang, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O livro "Microeconomic Theory", de Andreu Mas-Colell, Michael D. Whinston e Jerry R. Green (Oxford), tem como objetivo ensinar a teoria microeconômica, que visa explicar como as decisões individuais são formadas. Hoje, no Brasil, é bem entendida a problemática macroeconômica (austeridade fiscal, o pilar fundamental), mas a microeconômica ainda não o é. Algumas questões microeconômicos:
- Reforma das leis trabalhistas.
- Proteção ao direito de propriedade, com ação firme contra invasões do MST.
- Proteção ao direito de propriedade, por meio do respeito aos contratos de concessão existentes, aos contratos realizados entre o setor privado e o setor público e por meio da não interferência em transações entre terceiros. Pelo menos em duas ocasiões, essa interferência foi patrocinada pelo governo federal: quando o ministro das Telecomunicações estimulou a população a entrar com ações contra reajustes de preços determinados pela Anatel e quando o ministro da Saúde determinou a interferência em reajustes dos planos privados de saúde.
- Proteção dos direitos individuais, por meio da rápida execução judicial de disputas, de acordo com as leis, de forma previsível e estável.
- Maiores investimentos em qualidade da educação (pré-escola e creche) e diminuição acentuada de gastos em ensino superior público.
- Concentração dos gastos em pesquisa científica de excelência (hoje, as forças de pesquisa são dispersas regionalmente, com enorme ineficiência econômica).
- Melhorar sobremaneira as agências reguladoras e a regulamentação de diversos setores. Os mais críticos são os de gás, saneamento, seguro-saúde, eletricidade e aviação civil.
- Medidas para aumentar a concessão de crédito à economia.
- Medidas complementares à lei de falências.
- Melhorar a eficiência de diversos tributos, inclusive do IPI e do ICMS.
- Maior envolvimento das áreas econômicas na discussão de negociações comerciais internacionais.
- Continuidade dos processos de privatização e concessão.
Sérgio Werlang, diretor-executivo do Banco Itaú e professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV, foi diretor do Banco Central.
"Essa gente precisa ler quase tudo"Francisco de Oliveira, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
A verdade é que toda essa gente precisa ler - ou reler - quase tudo. Tanto o PT como o PSDB deveriam ler uma biblioteca inteira antes de pensar em elaborar qualquer coisa. Mas destaco duas obras essenciais: "Formação Econômica do Brasil", do economista Celso Furtado (Nacional), e "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", de John Maynard Keynes (Atlas).
O primeiro livro é um estudo sobre o processo histórico da constituição da economia brasileira. Celso Furtado o escreveu na virada da década de 1950, no momento em que as lutas sociais reivindicavam reformas de base. Furtado expõe, nessa obra, as raízes históricas do subdesenvolvimento do Brasil e os obstáculos que impediam a formação da economia nacional. É um livro que associa a história à teoria. É o que falta aos planos de governo de hoje. A teoria não ensina nada se não estiver associada à história. E também se pode dizer que história sem teoria é só narrativa.
O livro de John Maynard Keynes é indicado porque uns e outros já se esqueceram de muita coisa. É a principal obra do economista inglês. Foi escrita em 1936 e serviu de base para a chamada teoria keynesiana, conjunto de idéias que propunham a intervenção estatal na vida econômica de um país com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As idéias de Keynes estimularam a adoção de políticas intervencionistas sobre o funcionamento da economia.
Quando proponho que leiam essas obras não estou pedindo que voltem para o passado, mas que olhem para o passado e aprendam com ele. Os governantes de hoje estão seguindo uma teoria vazia e neutra e é por isso que andam confundindo gasto do governo com despesa. O ministro Antonio Palocci mesmo, quando vai à televisão e diz que inflação é incompatível com o crescimento, mostra que não sabe de nada, que não leu esses livros. Furtado mostra como o Brasil cresceu nas décadas de 1960 e 70 mesmo com índices de inflação altíssimos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso até já havia lido essa obra, mas deve ter esquecido também.
Francisco de Oliveira, economista, professor de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, é ex-membro do PT.
Sem olhar para o retrovisorGustavo Loyola, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O Futuro Chegou - Instituições e Desenvolvimento no Brasil", de Mailson da Nobrega (Globo), é um livro adequado para os candidatos ao Palácio do Planalto. É crescente a percepção de que o crescimento econômico depende de boas instituições. E os governos desempenham importante papel na criação e fortalecimento de instituições essenciais ao funcionamento da economia e dos mercados. O livro oferece excelente oportunidade de reflexão para os candidatos e seus colaboradores na formulação de políticas públicas que podem acelerar o crescimento do país. Tomara que nenhum dos candidatos venha a elaborar seu programa olhando para o retrovisor da história, enquanto a sociedade brasileira mira o futuro que, de tão próximo, já chegou.
Gustavo Loyola, economista, ex-presidente do Banco Central, é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada.
O modelo chileno como referênciaJacques Marcovitch, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Meses antes de terminar o mandato como presidente do Chile, Ricardo Lagos publicou "The 21st Century: A View from the South" (First Magazine), no qual explica a evolução da democracia e do desenvolvimento econômico em seu país. Oferece ainda prioridades para uma agenda internacional: desarmamento, combate ao terrorismo, liberalização comercial, luta contra o crime organizado e narcotráfico, a proteção ao meio ambiente, avanço científico e tecnológico. A obra contribui para o entendimento do ideário que inspirou os programas econômicos e os planos de reconstrução política adotados no Chile, assim como seus resultados tangíveis. Também indico "Ilícito - O Ataque da Pirataria, da Lavagem de Dinheiro e do Tráfico à Economia Global", de Naím Moisés, a ser lançado pela Jorge Zahar. O autor denuncia redes criminosas, beneficiárias da globalização, quase todas operando também na América Latina, onde o comércio ilegal de madeira serve de moeda de troca neste escambo invisível.
Jacques Marcovitch é professor de relações internacionais e ex-reitor da USP.
Só crescimento não é desenvolvimentoJosé Eli da Veiga, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
O livro que sugiro aos elaboradores dos programas de governo é "Desenvolvimento como Liberdade" (Companhia das Letras), escrito pelo economista indiano Amartya Sen - vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1998.
A razão para a minha recomendação dessa obra é que, ao que tudo indica, os formuladores dos programas dos candidatos nas próximas eleições ainda precisam descobrir qual é a enorme diferença que existe entre crescimento econômico e desenvolvimento.
José Eli da Veiga, professor da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade de São Paulo, colunista do "Valor", é autor do livro "Meio Ambiente & Desenvolvimento" (Editora Senac), entre outros.
Adeus, senhor presidenteWalter Barelli, para o Valor | Valor Econômico - 24/03/2006 - edicão nº 1476
Os analistas do PT precisam ler pelo menos três livros antes de elaborar um novo programa de governo: "O Fim da Pobreza", de Jeffrey Sachs (Companhia das Letras), "Adeus, Senhor Presidente" e "Chimpanzé, Maquiavel e Gandhi", ambos de autoria do sociólogo chileno Carlos Matus (Fundap).
A obra mais recente de Sachs, lançada no ano passado, desenha um plano de solidariedade mundial para eliminar a miséria, que mata 8 milhões de pessoas por ano. Em "O Fim da Pobreza", o economista americano sugere a adoção de um plano de ação que organize os projetos de redução da pobreza, fome e degradação econômica, para que as idéias não morram no papel por todo o mundo.
"Adeus, Senhor Presidente", na verdade, é um romance que fala sobre a história das democracias na América Latina. Começa com a transmissão de mandato de um presidente que está fazendo as malas depois que entregou o governo a seu sucessor.
Quando o presidente sai pela porta do palácio do governo com suas coisas, um menino pobre, sentado à porta, é a única pessoa que o saúda. Ninguém mais está ali para homenageá-lo, a não ser o menino, que se acomoda no mesmo lugar todos os dias, para pedir ajuda a quem passa, uma vez que morava nas ruas. É ele quem diz "adeus, senhor presidente".
Em seu outro livro, Matus define três modos de administrar a política: os estilos Chimpanzé, Maquiavel e Gandhi. O primeiro é marcado por uma metodologia de embrutecimento, em que a meta é alcançar o poder a qualquer custo. O segundo é baseado na idéia de um projeto que parece impossível de realizar sem o comando de um chefe afeito à idéia de subordinação dos meios à superioridade dos fins. Finalmente, o estilo Gandhi se inspira em valores como confiança e credibilidade. Se os assessores do PT tivessem lido esses livros, não teriam errado tanto.
Walter Barelli, economista, deputado federal pelo PSDB de São Paulo, foi ministro do Trabalho no governo Itamar Franco e secretário de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo nos governos de Mário Covas e Geraldo Alckmin.