Lulismo: um fenomeno politico - Ruda Ricci
Pessoalmente, não concederia tanta importância ao chamado "lulismo" quanto esses sociólogos e cientistas políticos que imaginam tratar-se de algo consistente, quando eu vejo mero conjunturalismo, falta de substância e total vazio de idéias. Difícil, assim, associar o pretenso lulismo ao varguismo, ao peronismo e outros ismos que existiram por aí, embasados em ideias, discursos, enfim alguma coerência qualquer, o que está longe de ser o caso com esse oportunismo político...
LULISMO: da Era dos Movimentos Sociais à Ascensão da Nova Classe Média Brasileira
Rudá Ricci
Editora Contraponto/Fundação Astrojildo Pereira
ISBN 978-85-89216-28-9
Este livro analisa dois temas que se entrecruzam: a emergência do lulismo no mesmo instante em que os movimentos sociais surgidos nos anos 1980 (que grande parte da literatura especializada denominou de novos movimentos sociais) caminhava para sua institucionalização, alterando, na prática, o ideário anti-institucionalista que os caracterizava. Ambas as situações – o surgimento do lulismo e a mutação dos movimentos sociais brasileiros – nascem sob o mesmo signo e motivação. O esforço aqui contido é o da tentativa de mergulhar no mérito desta transformação política do Brasil, que cruzou ousadia e inovações, configurando uma página da história política de nosso país sem paralelo.
A lógica dos movimentos sociais foi se transmutando em algo próximo do que Claus Offe denominou de estatalização, ou seja, a dependência das ações sociais e coletivas em relação à proteção, anuência ou controle do Estado. Já o lulismo forja-se a partir da vitória de Lula à Presidência da República. Esboçou-se com maior nitidez na primeira gestão de Lula, amparada inicialmente pela Carta ao Povo Brasileiro (2002). Mas foi na campanha de 2006 (que reelegeu Lula) e do primeiro ano da sua segunda gestão que o lulismo ganhou sua roupagem final. Constituiu-se num demiurgo da finalização da modernização do país iniciada por Getúlio Vargas. O que os gramscianos denominariam de “revolução passiva”, pelo alto, conservadora porque pautada pela hipertrofia do Estado, que administra a vida social, impregna todos os poros da sociedade brasileira e estabelece um pacto social pelo desenvolvimentismo caracterizado pela conciliação de interesses. O fato relevante é que o lulismo gerou e se alimenta da emergência da nova classe média brasileira. Mais da metade dos 190 milhões de brasileiros é, hoje, classe média, sendo 49% Classe C. Programas de transferência de renda associados ao aumento do valor do salário mínimo geraram este novo “milagre brasileiro”. E alimentaram o lulismo porque deram sentido ao estilo discursivo e ao projeto estatal-desenvolvimentista. Lula fala para esta nova classe média. Milhões de brasileiros que rompem com histórias familiares de exclusão do consumo de massas. Por este motivo, são brasileiros pragmáticos como o lulismo. Não são afetos a teorias ou ideologias. São descrentes da política. Seus vínculos sociais são comunitários, muitas vezes familiares, o que dá vida ao conceito de “ideologia da intimidade” elaborado nos anos 1970 por Richard Sennett.
Sobre o Autor
Rudá Ricci é sociólogo e doutor em ciências sociais. Membro da coordenação nacional do Fórum Brasil do Orçamento. Foi assessor nacional da CUT e coordenou a elaboração do programa agrário na campanha presidencial de Lula, em 1989. Dedica-se à implantação de metodologias de monitoramento em políticas públicas, educação para a cidadania e gestão participativa. É diretor geral do Instituto Cultiva (www.tvcultiva.com.br).
“Trata-se de uma exposição séria, que discute com propriedade e embasamento doutrinário as principais questões do chamado lulismo.”
Fábio Konder Comparato
“Uma reflexão abrangente sobre dois movimentos importantes e complementares no cenário social e político do Brasil recente: a estatalização dos movimentos sociais e a emergência do lulismo. No diálogo com a produção recente sobre o tema, emergem as características mais importantes do lulismo na percepção do autor: de um lado, a incorporação das camadas excluídas da população ao mercado de consumo, de outro, o abandono de todo projeto participativo em favor da cooptação, da relação verticalizada com as instâncias do aparelho de Estado.”
Caetano E. Pereira de Araujo, sociólogo, professor da UnB e presidente da Fundação Astrojildo Pereira
O período contemporâneo, durante o qual sobressaem a intensa ação do Partido dos Trabalhadores e a afirmação consagradora de seu líder principal, tem sido um dos mais fascinantes da vida política brasileira. Sob diversos ângulos, este provavelmente tem sido o ciclo presidencial mais relevante de nossa trajetória republicana. Mas a inquietante pergunta permanece: avançamos ou apenas experimentamos um novo transformismo, tudo mudando para permanecer onde sempre estivemos? Afinal, muitas continuidades permanecem domiciliadas na vida social, ainda que as rupturas sejam também a marca desses anos, assim como as inovações e a ousadia em muitos âmbitos. Lulismo, de Rudá Ricci, interpreta esta quadra histórica com raro brilhantismo, unindo os fatos e os debates mais cruciais com os conceitos centrais da teoria social, assim tecendo uma compreensão que ilumina esta época. É um livro que imediatamente se torna referencial, caudatário da densa experiência política e profissional do autor e sua admirável capacidade analítica. Oferece uma leitura abrangente e refinada sobre um período recente e disseca um fenômeno sócio-político demarcador na história brasileira – o lulismo.
Zander Navarro (sociólogo, professor da UFRGS e pesquisador associado ao Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento, na Inglaterra)
LULISMO: da Era dos Movimentos Sociais à Ascensão da Nova Classe Média Brasileira
Rudá Ricci
Editora Contraponto/Fundação Astrojildo Pereira
ISBN 978-85-89216-28-9
Este livro analisa dois temas que se entrecruzam: a emergência do lulismo no mesmo instante em que os movimentos sociais surgidos nos anos 1980 (que grande parte da literatura especializada denominou de novos movimentos sociais) caminhava para sua institucionalização, alterando, na prática, o ideário anti-institucionalista que os caracterizava. Ambas as situações – o surgimento do lulismo e a mutação dos movimentos sociais brasileiros – nascem sob o mesmo signo e motivação. O esforço aqui contido é o da tentativa de mergulhar no mérito desta transformação política do Brasil, que cruzou ousadia e inovações, configurando uma página da história política de nosso país sem paralelo.
A lógica dos movimentos sociais foi se transmutando em algo próximo do que Claus Offe denominou de estatalização, ou seja, a dependência das ações sociais e coletivas em relação à proteção, anuência ou controle do Estado. Já o lulismo forja-se a partir da vitória de Lula à Presidência da República. Esboçou-se com maior nitidez na primeira gestão de Lula, amparada inicialmente pela Carta ao Povo Brasileiro (2002). Mas foi na campanha de 2006 (que reelegeu Lula) e do primeiro ano da sua segunda gestão que o lulismo ganhou sua roupagem final. Constituiu-se num demiurgo da finalização da modernização do país iniciada por Getúlio Vargas. O que os gramscianos denominariam de “revolução passiva”, pelo alto, conservadora porque pautada pela hipertrofia do Estado, que administra a vida social, impregna todos os poros da sociedade brasileira e estabelece um pacto social pelo desenvolvimentismo caracterizado pela conciliação de interesses. O fato relevante é que o lulismo gerou e se alimenta da emergência da nova classe média brasileira. Mais da metade dos 190 milhões de brasileiros é, hoje, classe média, sendo 49% Classe C. Programas de transferência de renda associados ao aumento do valor do salário mínimo geraram este novo “milagre brasileiro”. E alimentaram o lulismo porque deram sentido ao estilo discursivo e ao projeto estatal-desenvolvimentista. Lula fala para esta nova classe média. Milhões de brasileiros que rompem com histórias familiares de exclusão do consumo de massas. Por este motivo, são brasileiros pragmáticos como o lulismo. Não são afetos a teorias ou ideologias. São descrentes da política. Seus vínculos sociais são comunitários, muitas vezes familiares, o que dá vida ao conceito de “ideologia da intimidade” elaborado nos anos 1970 por Richard Sennett.
Sobre o Autor
Rudá Ricci é sociólogo e doutor em ciências sociais. Membro da coordenação nacional do Fórum Brasil do Orçamento. Foi assessor nacional da CUT e coordenou a elaboração do programa agrário na campanha presidencial de Lula, em 1989. Dedica-se à implantação de metodologias de monitoramento em políticas públicas, educação para a cidadania e gestão participativa. É diretor geral do Instituto Cultiva (www.tvcultiva.com.br).
“Trata-se de uma exposição séria, que discute com propriedade e embasamento doutrinário as principais questões do chamado lulismo.”
Fábio Konder Comparato
“Uma reflexão abrangente sobre dois movimentos importantes e complementares no cenário social e político do Brasil recente: a estatalização dos movimentos sociais e a emergência do lulismo. No diálogo com a produção recente sobre o tema, emergem as características mais importantes do lulismo na percepção do autor: de um lado, a incorporação das camadas excluídas da população ao mercado de consumo, de outro, o abandono de todo projeto participativo em favor da cooptação, da relação verticalizada com as instâncias do aparelho de Estado.”
Caetano E. Pereira de Araujo, sociólogo, professor da UnB e presidente da Fundação Astrojildo Pereira
O período contemporâneo, durante o qual sobressaem a intensa ação do Partido dos Trabalhadores e a afirmação consagradora de seu líder principal, tem sido um dos mais fascinantes da vida política brasileira. Sob diversos ângulos, este provavelmente tem sido o ciclo presidencial mais relevante de nossa trajetória republicana. Mas a inquietante pergunta permanece: avançamos ou apenas experimentamos um novo transformismo, tudo mudando para permanecer onde sempre estivemos? Afinal, muitas continuidades permanecem domiciliadas na vida social, ainda que as rupturas sejam também a marca desses anos, assim como as inovações e a ousadia em muitos âmbitos. Lulismo, de Rudá Ricci, interpreta esta quadra histórica com raro brilhantismo, unindo os fatos e os debates mais cruciais com os conceitos centrais da teoria social, assim tecendo uma compreensão que ilumina esta época. É um livro que imediatamente se torna referencial, caudatário da densa experiência política e profissional do autor e sua admirável capacidade analítica. Oferece uma leitura abrangente e refinada sobre um período recente e disseca um fenômeno sócio-político demarcador na história brasileira – o lulismo.
Zander Navarro (sociólogo, professor da UFRGS e pesquisador associado ao Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento, na Inglaterra)
Marcadores: lulismo, Ruda Ricci
1 Comments:
Prezado Pedro Paulo.
Decobri o seu blog hoje enquanto buscava a informações do livro do professor Niall Ferguson. Achei um trabalho excelente.
Fiquei ainda mais feliz por você ser um diplomata, profissão que pensei em seguir e por isso fiz Relações Internacionais. Porém meu meu saudoso professor Antonio Humberto Braga ( pode ser ter sido seu colega de Itamaraty), falou que tinha coração muito mole para seguir carreira.
Otavio
By Unknown, at quarta-feira, julho 21, 2010 2:44:00 PM
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