202) Uma historia da Europa contemporanea
Pós-Guerra - Um história da Europa desde 1945
Autor(es): Tony Judt
Editora: Objetiva
Área(s): História
880 pág.
Preço: R$ 79,90
enciclopédia. Brilhante.? ? New York Review of Books
O inglês Tony Judt, um dos historiadores e intelectuais mais respeitados da atualidade, dedicou pelo menos uma década de pesquisa e reflexão à desafiadora tarefa de escrever a primeira História da Europa contemporânea. Ao longo de novecentas páginas, Pós-Guerra vai de Portugal à Rússia, abrangendo 34 países e cobrindo um período de sessenta anos em uma só narrativa.
Com uma abordagem inovadora, Judt trata praticamente todo o século XX como "o epílogo da Segunda Guerra" e considera o ano de 1989, marcado pelo colapso do comunismo e a queda do muro de Berlim, este sim o começo do fim do pós-guerra.
Apesar do tamanho e complexidade do continente, Judt criou um relato coeso de seu passado recente. Sofisticado e ao mesmo tempo acessível leigos no assunto, Pós-guerra reúne relações internacionais, políticas internas, pensamentos e teorias, mudanças sociais e aspectos culturais numa grandiosa narrativa.
Cada país tem seu momento de entrar em cena, ainda que os chamados grandes temas estejam sempre em foco ? a guerra fria, a relação de amor e ódio dos países europeus com os Estados Unidos, a decadência e o renascimento cultural e econômico, o mito e a realidade da unificação econômica na Comunidade Européia, nenhum deles ofusca o grande personagem que é este continente como um todo.
Uma das conclusões mais interessantes a que Judt chega é apresentada no último capítulo, "Da casa dos mortos", no qual analisa o efeito do Holocausto sobre a personalidade coletiva do continente. Ainda que tenha levado mais de quarenta anos para ser assimilada, é exatamente a tragédia da Segunda Guerra que confere unidade à Europa.
Seguindo essa linha de raciocínio, o autor critica também a atual posição política de Israel, que, apoiado pelos Estados Unidos, distorce o significado do Holocausto e o simplifica ao nível de uma matança de judeus. Judt, que também é judeu e viveu o período do pós-guerra na Europa, afirma que, com isso, o momento histórico fica esvaziado de significado. Para ele, a compreensão da importância do Holocausto passa pela percepção da universalidade do mal que um povo pode impingir a outro em qualquer genocídio. Ele destaca o drama do Kosovo e da Iugoslávia, por exemplo, como um alerta: a lição ainda está por ser aprendida.
Mas Pós-Guerra não se detém a uma só conclusão. Judt analisa assuntos tão diferentes e tão importantes na formação e na unificação do caráter da Europa contemporânea ? os movimentos estudantis, culturais e de independência, o cinema e até o futebol.
Pós-Guerra foi eleito um dos dez melhores livros do ano de 2005 pelo New York Times e escolhido pela revista Time como o melhor livro do ano.
Sobre o autor:
TONY JUDT nasceu em Londres, em 1948. Formou-se pelo King?s College, em Cambridge, e pela École Normale Supérieure, em Paris, e já lecionou em Cambridge, Oxford, Berkeley e na Universidade de Nova York, onde fundou, em 1995, o Remarque Institute, que se dedica ao estudo da Europa. Judt é atualmente professor titular de Estudos Europeus, ocupando cátedra instituída em homenagem a Erich Maria Remarque, veterano da Primeira Guerra Mundial e autor do romance Nada de Novo no Front.
Autor e organizador de 11 livros, Judt é articulista freqüente em vários periódicos, como The New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic e The New York.
Há um grande livro na praça, é "Pós-Guerra'
ARTIGO DE ELIO GASPARI
Folha de São Paulo - 30/04/2008
Tony Judt escreveu uma preciosa história da Europa, da ruína de 1945 à prosperidade de hoje
SAIU UM DAQUELES livros que entram na vida de quem os lê e não saem mais. É "Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945", do professor anglo-americano Tony Judt. São 848 páginas (1,2 kg) com o majestoso painel de um mundo que em pouco mais de meio século passou da ruína ao controle de mais de um terço da produção mundial. A Segunda Guerra custou à Europa 36 milhões de vidas e desalojou 30 milhões de pessoas. Hoje a União Européia forma um bloco de 500 milhões de cidadãos livres, educados e prósperos, capazes de fazer do século 21 sua hora e vez.
"Pós-Guerra" será útil para quem não viveu o período, pois passa longe da matraca das falsificações produzidas durante a Guerra Fria . Judt vira pelo avesso diversas certezas. Stálin poderia invadir a Europa? Difícil. Em 1946, o generalíssimo cometeu um dos erros de sua vida. Achava que a guerra era inevitável, mas teria os Estados Unidos de um lado, a Inglaterra de outro e ele de fora. Entre 1945 e 1947, a União Soviética baixou seu efetivo militar de 11,4 milhões para 2,9 milhões de soldados. Socialismo? Não houve esse tipo de coisa, o que existiu foi o estado ditatorial leninista.
Judt parece um malabar da política, da economia e da cultura. Vai da filosofia (o escritor francês Jean Paul Sartre chamava a violência comunista de "humanismo proletário") ao cinema (a Ponte do Rio Kwai é um sinal de que os ingleses passaram a ver a guerra de outra forma).
Quando joga números no meio da narrativa, consegue o improvável: aumenta o prazer da leitura. Algumas vezes surpreende: a guerra destruiu apenas 20% da capacidade industrial da Alemanha e tanto ela quanto a Itália, a França, o Japão saíram com mais máquinas e equipamentos do que tinham antes do conflito. A Alemanha administrou a França mandando para lá apenas 1.500 funcionários. (Em 1953, a máquina de propaganda do governo americano tinha 13 mil empregados.)
"Pós-Guerra" conta a história de duas Europas. A Ocidental, vigorosa, e a socialista, estagnada. Em 1957, só 2% das casas italianas tinham geladeira. Em 1974, eram 94%. Segundo Judt, diversos fatores contribuíram para o renascimento europeu, da ajuda americana à liberalização do comércio. Mesmo assim, decisivos mesmo foram o otimismo e o leite grátis. Mais gente, mais trabalhadores, mais produtos e mais consumidores transformaram as cidades arruinadas na Europa moderna.
O livro tem dois capítulos excepcionais. "O fantasma da Revolução" conta os anos 60 da juventude do Ocidente. O seguinte, "O fim de caso" narra os 60 do outro lado do Muro. Judt desmonta a mitologia sessentona com muita erudição, alguma ironia e nenhuma piedade. Ele gosta mais da garotada de Praga do que dos cabeludos de Paris. Sua conclusão: "Os 60 acabaram mal em todos os lugares".
Dois personagens do fim do século estão muito bem retratados. Margaret Thatcher, por quem Judt tem uma ponta de admiração, mesmo detestando sua política, e Mikhail Gobarchev, a quem maltrata, gostando do que fez. O governante soviético admitia que tocassem rock, desde que fosse "melodioso, coerente e bem executado". "Era isso que Gorbachev queria, um comunismo melodioso, coerente e bem executado", diz Judt.
Autor(es): Tony Judt
Editora: Objetiva
Área(s): História
880 pág.
Preço: R$ 79,90
enciclopédia. Brilhante.? ? New York Review of Books
O inglês Tony Judt, um dos historiadores e intelectuais mais respeitados da atualidade, dedicou pelo menos uma década de pesquisa e reflexão à desafiadora tarefa de escrever a primeira História da Europa contemporânea. Ao longo de novecentas páginas, Pós-Guerra vai de Portugal à Rússia, abrangendo 34 países e cobrindo um período de sessenta anos em uma só narrativa.
Com uma abordagem inovadora, Judt trata praticamente todo o século XX como "o epílogo da Segunda Guerra" e considera o ano de 1989, marcado pelo colapso do comunismo e a queda do muro de Berlim, este sim o começo do fim do pós-guerra.
Apesar do tamanho e complexidade do continente, Judt criou um relato coeso de seu passado recente. Sofisticado e ao mesmo tempo acessível leigos no assunto, Pós-guerra reúne relações internacionais, políticas internas, pensamentos e teorias, mudanças sociais e aspectos culturais numa grandiosa narrativa.
Cada país tem seu momento de entrar em cena, ainda que os chamados grandes temas estejam sempre em foco ? a guerra fria, a relação de amor e ódio dos países europeus com os Estados Unidos, a decadência e o renascimento cultural e econômico, o mito e a realidade da unificação econômica na Comunidade Européia, nenhum deles ofusca o grande personagem que é este continente como um todo.
Uma das conclusões mais interessantes a que Judt chega é apresentada no último capítulo, "Da casa dos mortos", no qual analisa o efeito do Holocausto sobre a personalidade coletiva do continente. Ainda que tenha levado mais de quarenta anos para ser assimilada, é exatamente a tragédia da Segunda Guerra que confere unidade à Europa.
Seguindo essa linha de raciocínio, o autor critica também a atual posição política de Israel, que, apoiado pelos Estados Unidos, distorce o significado do Holocausto e o simplifica ao nível de uma matança de judeus. Judt, que também é judeu e viveu o período do pós-guerra na Europa, afirma que, com isso, o momento histórico fica esvaziado de significado. Para ele, a compreensão da importância do Holocausto passa pela percepção da universalidade do mal que um povo pode impingir a outro em qualquer genocídio. Ele destaca o drama do Kosovo e da Iugoslávia, por exemplo, como um alerta: a lição ainda está por ser aprendida.
Mas Pós-Guerra não se detém a uma só conclusão. Judt analisa assuntos tão diferentes e tão importantes na formação e na unificação do caráter da Europa contemporânea ? os movimentos estudantis, culturais e de independência, o cinema e até o futebol.
Pós-Guerra foi eleito um dos dez melhores livros do ano de 2005 pelo New York Times e escolhido pela revista Time como o melhor livro do ano.
Sobre o autor:
TONY JUDT nasceu em Londres, em 1948. Formou-se pelo King?s College, em Cambridge, e pela École Normale Supérieure, em Paris, e já lecionou em Cambridge, Oxford, Berkeley e na Universidade de Nova York, onde fundou, em 1995, o Remarque Institute, que se dedica ao estudo da Europa. Judt é atualmente professor titular de Estudos Europeus, ocupando cátedra instituída em homenagem a Erich Maria Remarque, veterano da Primeira Guerra Mundial e autor do romance Nada de Novo no Front.
Autor e organizador de 11 livros, Judt é articulista freqüente em vários periódicos, como The New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic e The New York.
Há um grande livro na praça, é "Pós-Guerra'
ARTIGO DE ELIO GASPARI
Folha de São Paulo - 30/04/2008
Tony Judt escreveu uma preciosa história da Europa, da ruína de 1945 à prosperidade de hoje
SAIU UM DAQUELES livros que entram na vida de quem os lê e não saem mais. É "Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945", do professor anglo-americano Tony Judt. São 848 páginas (1,2 kg) com o majestoso painel de um mundo que em pouco mais de meio século passou da ruína ao controle de mais de um terço da produção mundial. A Segunda Guerra custou à Europa 36 milhões de vidas e desalojou 30 milhões de pessoas. Hoje a União Européia forma um bloco de 500 milhões de cidadãos livres, educados e prósperos, capazes de fazer do século 21 sua hora e vez.
"Pós-Guerra" será útil para quem não viveu o período, pois passa longe da matraca das falsificações produzidas durante a Guerra Fria . Judt vira pelo avesso diversas certezas. Stálin poderia invadir a Europa? Difícil. Em 1946, o generalíssimo cometeu um dos erros de sua vida. Achava que a guerra era inevitável, mas teria os Estados Unidos de um lado, a Inglaterra de outro e ele de fora. Entre 1945 e 1947, a União Soviética baixou seu efetivo militar de 11,4 milhões para 2,9 milhões de soldados. Socialismo? Não houve esse tipo de coisa, o que existiu foi o estado ditatorial leninista.
Judt parece um malabar da política, da economia e da cultura. Vai da filosofia (o escritor francês Jean Paul Sartre chamava a violência comunista de "humanismo proletário") ao cinema (a Ponte do Rio Kwai é um sinal de que os ingleses passaram a ver a guerra de outra forma).
Quando joga números no meio da narrativa, consegue o improvável: aumenta o prazer da leitura. Algumas vezes surpreende: a guerra destruiu apenas 20% da capacidade industrial da Alemanha e tanto ela quanto a Itália, a França, o Japão saíram com mais máquinas e equipamentos do que tinham antes do conflito. A Alemanha administrou a França mandando para lá apenas 1.500 funcionários. (Em 1953, a máquina de propaganda do governo americano tinha 13 mil empregados.)
"Pós-Guerra" conta a história de duas Europas. A Ocidental, vigorosa, e a socialista, estagnada. Em 1957, só 2% das casas italianas tinham geladeira. Em 1974, eram 94%. Segundo Judt, diversos fatores contribuíram para o renascimento europeu, da ajuda americana à liberalização do comércio. Mesmo assim, decisivos mesmo foram o otimismo e o leite grátis. Mais gente, mais trabalhadores, mais produtos e mais consumidores transformaram as cidades arruinadas na Europa moderna.
O livro tem dois capítulos excepcionais. "O fantasma da Revolução" conta os anos 60 da juventude do Ocidente. O seguinte, "O fim de caso" narra os 60 do outro lado do Muro. Judt desmonta a mitologia sessentona com muita erudição, alguma ironia e nenhuma piedade. Ele gosta mais da garotada de Praga do que dos cabeludos de Paris. Sua conclusão: "Os 60 acabaram mal em todos os lugares".
Dois personagens do fim do século estão muito bem retratados. Margaret Thatcher, por quem Judt tem uma ponta de admiração, mesmo detestando sua política, e Mikhail Gobarchev, a quem maltrata, gostando do que fez. O governante soviético admitia que tocassem rock, desde que fosse "melodioso, coerente e bem executado". "Era isso que Gorbachev queria, um comunismo melodioso, coerente e bem executado", diz Judt.
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