167) O livro eletronico (ou quase isso...)
Kindle, um leitor de livros limitado
The Wall Street Journal Americas
Walter S. Mossberg
Valor Econômico, 29/11/2007 00:00
Durante muitos anos ninguém conseguiu produzir um livro eletrônico bem-sucedido, uma engenhoca especializada que faria pelos livros o que o iPod, da Apple, fez pela música - permitir que você leve para onde quiser uma grande quantidade de títulos para curtir de modo confortável e conveniente.
Há apenas um ano, a Sony tentou mais uma vez empregar esse conceito com um produto chamado Sony Reader. Como o iPod, ele é ligado a uma loja na internet em que você pode comprar milhares de títulos e baixá-los. Diferentemente do iPod, ele não foi um sucesso de vendas, em parte porque a loja era difícil de acessar e tinha uma seleção muito limitada.
Agora, o maior nome em vendas de livros pela internet, a Amazon.com, entrou na disputa com um livro eletrônico de US$ 400 chamado Kindle, que pretende alcançar o sucesso oferecendo um método muito melhor de comprar livros.
O Kindle é o primeiro livro eletrônico que permite escolher, comprar e baixar títulos diretamente no aparelho, em vez de baixá-los primeiro para um computador para depois transferir ao aparelho. A Amazon está oferecendo uma grande coleção de livros digitalizados - cerca de 90 mil, comparada aos 25 mil da Sony. O Kindle também pode baixar jornais, revistas e blogs e atualizá-los imediatamente. Isso é possível porque ele vem com acesso à internet sem fio gratuito, através de uma rede celular para dados.
Eu venho testando o Kindle há uma semana e adorei a experiência de comprar e baixar os livros. Mas o aparelho em si é simplesmente medíocre. Embora seja fácil de ler, tenha boa duração da bateria e capacidade de armazenamento, o design do hardware e do programa de interface é prejudicado por falhas irritantes. Ele é maior e mais pesado do que o Sony Reader, cuja segunda versão acabou de ser lançada a US$ 300.
Como o Sony Reader, o aparelho da Amazon usa uma tecnologia de tela com alto contraste mas baixo consumo de eletricidade. A tela de seis polegadas do Kindle pode exibir apenas texto monocromático e imagens em tons de cinza, e há uma pequena demora e uma tela preta toda vez que você vira a página. Mas, de fato, eu descobri que a tela é boa o suficiente para me fazer esquecer que não estava lendo um livro de papel.
O Kindle pode armazenar cerca de 200 livros em sua memória interna e comporta cartões de memória para guardar mais livros, periódicos e blogs. Você também pode salvar e ler alguns tipos de arquivos pessoais e fotos no Kindle, mas terá de enviá-los à Amazon para conversão ao formato exclusivo do Kindle.
A bateria durou alguns dias para precisar de recarga com o recurso sem fio ligado, e durou mais quando eu o desabilitei.
Usando a organizada loja do Kindle, eu pude comprar livros como "Boom!", de Tom Brokaw, "Stone Cold", de David Baldacci, e "American Creation", de Joseph Ellis. O processo foi rápido e fácil, em parte porque o Kindle já vem configurado com as informações de sua conta da Amazon.
Novos lançamentos e best-sellers custam US$ 9,99 cada, ante o preço médio da Amazon de US$ 15 a US$ 20 por volumes de papel. Os preços de outros livros variam muito, mas geralmente são mais baratos do que as versões em papel.
Eu também consegui assinar as edições eletrônicas do Wall Street Journal, do "New York Times", da revista "Time", vários blogs e boletins RSS. Foi uma experiência muito menos satisfatória. A diagramação dessas publicações é muito mais desajeitada e difícil de usar do que na internet, e comprar essas publicações também é mais caro. Blogs e periódicos gratuitos na internet custam de US$ 0,99 a até US$ 14 por mês.
O Kindle tem alguns recursos de software interessantes. Ele vem com um pequeno teclado que permite fazer anotações nas margens de livros e realizar buscas. Também há um dicionário embutido.
Mas o aparelho é mal projetado. Ele tem botões enormes nas duas pontas para mudar de páginas. É muito fácil apertá-los acidentalmente, então minha leitura era interrompida a todo instante por viradas de página indesejadas. Ainda por cima, os botões são confusos. Um chamado "Back" não vai para a página anterior, mas supostamente para o último recurso acessado. Eu jamais conseguiria prever a sua função.
O botão "Home", para retornar à lista de conteúdo no Kindle, é pequeno e fica bem na ponta do teclado. Não existe um botão para levá-lo diretamente à loja na internet; você tem que abrir um menu e navegar pelos recursos. A capa, semelhante à de um livro, é projetada para proteger o aparelho, mas fica presa de modo tão frágil que cai toda hora. E, como os botões de ligar ficam escondidos atrás do aparelho, é praticamente garantido que você vai deslocar a capa para alcançá-los.
A interface também é desajeitada. Não há como organizar os títulos em grupos ou categorias, então você tem que ficar mudando as páginas na área "Home" para encontrar um item específico. E executar tantas tarefas exige que você maneje um cursor quase invisível por uma estreita janela lateral.
Também não há como mandar emails aos amigos para comentar livros ou artigos, enviar trechos ou links, ou até mesmo comprar um título da Kindle para dar de presente.
A Amazon acertou no quesito compra de livros em formato eletrônico. Mas ainda tem muito a aprender sobre como projetar aparelhos eletrônicos.
The Wall Street Journal Americas
Walter S. Mossberg
Valor Econômico, 29/11/2007 00:00
Durante muitos anos ninguém conseguiu produzir um livro eletrônico bem-sucedido, uma engenhoca especializada que faria pelos livros o que o iPod, da Apple, fez pela música - permitir que você leve para onde quiser uma grande quantidade de títulos para curtir de modo confortável e conveniente.
Há apenas um ano, a Sony tentou mais uma vez empregar esse conceito com um produto chamado Sony Reader. Como o iPod, ele é ligado a uma loja na internet em que você pode comprar milhares de títulos e baixá-los. Diferentemente do iPod, ele não foi um sucesso de vendas, em parte porque a loja era difícil de acessar e tinha uma seleção muito limitada.
Agora, o maior nome em vendas de livros pela internet, a Amazon.com, entrou na disputa com um livro eletrônico de US$ 400 chamado Kindle, que pretende alcançar o sucesso oferecendo um método muito melhor de comprar livros.
O Kindle é o primeiro livro eletrônico que permite escolher, comprar e baixar títulos diretamente no aparelho, em vez de baixá-los primeiro para um computador para depois transferir ao aparelho. A Amazon está oferecendo uma grande coleção de livros digitalizados - cerca de 90 mil, comparada aos 25 mil da Sony. O Kindle também pode baixar jornais, revistas e blogs e atualizá-los imediatamente. Isso é possível porque ele vem com acesso à internet sem fio gratuito, através de uma rede celular para dados.
Eu venho testando o Kindle há uma semana e adorei a experiência de comprar e baixar os livros. Mas o aparelho em si é simplesmente medíocre. Embora seja fácil de ler, tenha boa duração da bateria e capacidade de armazenamento, o design do hardware e do programa de interface é prejudicado por falhas irritantes. Ele é maior e mais pesado do que o Sony Reader, cuja segunda versão acabou de ser lançada a US$ 300.
Como o Sony Reader, o aparelho da Amazon usa uma tecnologia de tela com alto contraste mas baixo consumo de eletricidade. A tela de seis polegadas do Kindle pode exibir apenas texto monocromático e imagens em tons de cinza, e há uma pequena demora e uma tela preta toda vez que você vira a página. Mas, de fato, eu descobri que a tela é boa o suficiente para me fazer esquecer que não estava lendo um livro de papel.
O Kindle pode armazenar cerca de 200 livros em sua memória interna e comporta cartões de memória para guardar mais livros, periódicos e blogs. Você também pode salvar e ler alguns tipos de arquivos pessoais e fotos no Kindle, mas terá de enviá-los à Amazon para conversão ao formato exclusivo do Kindle.
A bateria durou alguns dias para precisar de recarga com o recurso sem fio ligado, e durou mais quando eu o desabilitei.
Usando a organizada loja do Kindle, eu pude comprar livros como "Boom!", de Tom Brokaw, "Stone Cold", de David Baldacci, e "American Creation", de Joseph Ellis. O processo foi rápido e fácil, em parte porque o Kindle já vem configurado com as informações de sua conta da Amazon.
Novos lançamentos e best-sellers custam US$ 9,99 cada, ante o preço médio da Amazon de US$ 15 a US$ 20 por volumes de papel. Os preços de outros livros variam muito, mas geralmente são mais baratos do que as versões em papel.
Eu também consegui assinar as edições eletrônicas do Wall Street Journal, do "New York Times", da revista "Time", vários blogs e boletins RSS. Foi uma experiência muito menos satisfatória. A diagramação dessas publicações é muito mais desajeitada e difícil de usar do que na internet, e comprar essas publicações também é mais caro. Blogs e periódicos gratuitos na internet custam de US$ 0,99 a até US$ 14 por mês.
O Kindle tem alguns recursos de software interessantes. Ele vem com um pequeno teclado que permite fazer anotações nas margens de livros e realizar buscas. Também há um dicionário embutido.
Mas o aparelho é mal projetado. Ele tem botões enormes nas duas pontas para mudar de páginas. É muito fácil apertá-los acidentalmente, então minha leitura era interrompida a todo instante por viradas de página indesejadas. Ainda por cima, os botões são confusos. Um chamado "Back" não vai para a página anterior, mas supostamente para o último recurso acessado. Eu jamais conseguiria prever a sua função.
O botão "Home", para retornar à lista de conteúdo no Kindle, é pequeno e fica bem na ponta do teclado. Não existe um botão para levá-lo diretamente à loja na internet; você tem que abrir um menu e navegar pelos recursos. A capa, semelhante à de um livro, é projetada para proteger o aparelho, mas fica presa de modo tão frágil que cai toda hora. E, como os botões de ligar ficam escondidos atrás do aparelho, é praticamente garantido que você vai deslocar a capa para alcançá-los.
A interface também é desajeitada. Não há como organizar os títulos em grupos ou categorias, então você tem que ficar mudando as páginas na área "Home" para encontrar um item específico. E executar tantas tarefas exige que você maneje um cursor quase invisível por uma estreita janela lateral.
Também não há como mandar emails aos amigos para comentar livros ou artigos, enviar trechos ou links, ou até mesmo comprar um título da Kindle para dar de presente.
A Amazon acertou no quesito compra de livros em formato eletrônico. Mas ainda tem muito a aprender sobre como projetar aparelhos eletrônicos.
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