Book Reviews

20 julho, 2007

128) Um Premio Nobel chines, grande romancista...

...e, como tal, considerado inimigo do regime.
Por que será que as ditaduras nunca gostam dos escritores e dos artistas?
Por que intelectuais sempre são perseguidos em regimes autoritários?

A Montanha da Alma
Gao Xingjian
Alfaguara, 554 págs., R$ 49,90

Xingjian: "A Montanha da Alma" é acerto de contas "com a nostalgia do país natal"
por: Luíza Mendes Furia
Valor Econômico, Caderno EU&Fim de Semana, /07/2007

O lirismo e as descrições cheias de cores e tons permeiam "A Montanha da Alma", romance considerado o mais importante da carreira do chinês Gao Xingjian, Prêmio Nobel de Literatura de 2000, que agora chega ao Brasil.
O livro, que mistura várias técnicas narrativas, foi escrito entre 1982 e 1989, depois de uma longa viagem que Xingjian fez pelo interior de seu vasto país - de variadas culturas, etnias e paisagens - e na qual entrou em contato com suas tradições e também com sua decadência.
Nascido em 1940 em Jiangxi, no sudeste da China, o autor passou pela "reeducação" imposta pela Revolução Cultural nos anos 1960 e pela abertura na década de 1970, quando os artistas ganharam uma tímida liberdade de expressão. Também pintor, tradutor, crítico literário formado em língua francesa no Instituto de Letras Estrangeiras de Pequim, e dramaturgo, Xingjian acabou, porém, por ter problemas com o governo nos anos 1980 por causa de suas populares peças teatrais, que contestavam o regime.
Em 1987, exilou-se na França, onde vive até hoje, sendo considerado pelo governo chinês um dissidente exilado. Apesar de ser o único chinês detentor do Nobel de Literatura, sua obra foi banida da China. Para Xingjian, "A Montanha da Alma" foi um acerto de contas "com a nostalgia do país natal".
"Obra única na paisagem literária contemporânea", segundo Noël Dutrait, seu tradutor francês, professor de língua e literatura chinesa na Universidade de Provence, o livro é entre outras coisas, viagem interior, confissão autobiográfica, evocação da paisagem e das florestas ainda virgens da China e apresenta dilaceramentos amorosos, faz uma reflexão sobre a arte do romance e evoca a "realidade kafkiana contemporânea"

1 Comments:

  • Dizer que arte e autoritarismo são incompatíveis não traduz o complexo antagonismo entre essas duas instâncias. Aliás, o tema dá pra umas trezentas teses, mas tentando ser o mais sintética possível eu diria que arte é sedução, sutileza, delicadeza, mesmo quando parece violência. Autoritarismo é estupro, força bruta, violência, mesmo quando parece delicadeza. "O fascismo é uma minhoca que se infiltra na maçã, ou vem com botas cardadas ou com pezinhos de lã", como bem disse Sérgio Godinho. Ora, bons escritores sabem descrever tudo - absolutamente tudo - das montanhas da alma aos abismos da terra, com veracidade, beleza e exatidão só podem, portanto, esperar serem perseguidos por regimes que não podem prescindir do controle ideológico da população. Elementar, meu caro Watson... Vou comprar o livro amanhã! Mesmo porque o título me encantou!

    By Blogger Maria do Espírito Santo, at terça-feira, julho 24, 2007 8:05:00 PM  

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