Book Reviews

02 abril, 2006

30) Monopólio do saber?

Resenha de
Fernando Antonio Ferreira de Barros:
A tendência concentradora da produção de conhecimento no mundo contemporâneo
(Brasília: Paralelo 15 – Abipti, 2005, 307 p.)

O longo título já revela o conteúdo deste livro, que resulta de uma tese doutoral na UnB. O autor acredita, com muitos outros colegas, que a produção de conhecimento, tanto científico quanto prático, isto é, tecnológico, tende a se concentrar cada vez mais num pequeno grupo de países. Isto é verdade, como também o que já se chamou de “grande divergência”, ou seja, a distância cada vez maior de renda per capita entre os países mais avançados e os mais pobres (China e Índia não obstante).
Isso não invalida o fato, porém, que a maior parte do estoque de conhecimento científico acumulado pela humanidade esteja livremente disponível a quem tiver acesso às redes eletrônicas de dados. Nesse sentido, o mundo nunca foi tão “igualitário” como agora, mas a tendência concentradora é um fato, ainda que isso possa não ser uma perversidade dos “produtores de ciência” e sim o resultado da incapacidade dos mais pobres acompanhar o ritmo da pesquisa e desenvolvimento para fins produtivos. Dotado de metodologias testadas, o autor mapeia esse distanciamento na produção de ciência e tecnologia nos mais diversos países, dedica um capítulo aos países emergentes, em especial ao Brasil, identifica as razões das desigualdades e faz recomendações na linha do que já propôs o Interacademy Council para reforçar a C&T em todos os países.
Certa visão conspiratória transparece de sua adesão às teses de Ha-joon Chang (Chutando a escada), que acha que os países desenvolvidos querem impedir os menos avançados de alcançá-los e por isso recomendam receitas neoliberais que eles mesmos não seguiram nos seus processos de industrialização. Os fundamentos metodológicos e empíricos desse tipo de raciocínio já foram contestados, o que não impede sua boa recepção nos meios acadêmicos opostos ao mainstream economics.
As teses desenvolvimentistas já receberam muitas ressalvas, mas suas bases continuam intactas, como revelado no movimento anti-globalizador. O autor não diz, exatamente, que “um outro mundo científico é possível”, mas ele talvez gostasse que isso ocorresse segundo as vias tradicionais do investimento estatal e da coordenação das agências públicas com o capital privado. Talvez falte um pouco de confiança na capacidade da própria sociedade se organizar para produzir o saber científico, mas isso começa pela impulsão da educação de base, não necessariamente pelo pródigo apoio à superestrutura algo elitista da comunidade científica. Em todo caso, vale a pena conferir os dados do problema.

Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 1536, 18 janeiro 2006)

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